home

plantel

contactos

plantel

apoios









media

uteis

arquivos

estatísticas

On-line



eXTReMe Tracker




quarta-feira, julho 19, 2006

LIVRES
Reportagem

» De tanto bater o meu coração parou - Parte II



Um dos pontos mais debatidos nos últimos anos tem sido a eficácia dos exames médico-desportivos utilizados pelos clubes em Portugal. O Dr. Raul Pacheco explica todo o processo, no qual se permite a um jogador praticar determinado desporto.
“Portugal tem uma folha médico-desportiva normalizada pelo Instituto do Desporto que está em vigor e que inclusive é reconhecida e adoptada noutros países. É um boletim médico exaustivo onde se prevêem uma série de itens relacionados com o estado de saúde das pessoas, o termo de responsabilidade do examinado relativo ao seu historial clínico”. Este documento é complementado com alguns exames, nomeadamente a obrigatoriedade de um electrocardiograma, análises e Raio-X do tórax. No entanto, o médico responsável poderá efectuar mais exames, se detectar algum problema que não lhe possa garantir a prática desportiva.
A sensibilidade das pessoas aos acontecimentos dos últimos anos leva a que solicitem, por iniciativa própria, a realização de exames complementares. Um dos exames mais pedidos é o ecocardiograma. Os ecocardiogramas, juntamente com os electrocardiogramas, abrangem já uma percentagem “elevadíssima” de situações de risco para a prática desportiva.
No entanto, a nível competitivo o grau de exigência é mais elevado. O Dr. Raul Pacheco explicou que o mediatismo destes casos, levou a FIFA a obrigar as 32 federações que marcam presença no Mundial da Alemanha a realizar exames com maior rigor, nomeadamente a nível traumatológico e cardíaco que permitam uma avaliação clínica de nível cardiológico e ortopédico rigorosa. “Estas são as duas maiores áreas de conflito e lesões que podem comprometer”. Revelou ainda que a Federação Portuguesa de Futebol complementou ainda mais os seus exames, realizando “provas de avaliação funcional, provas de adaptação, avaliação de condição física depois de uma época extremamente desgastante para saber qual é o estado de saúde de cada jogador e o seu perfil”.

“Só se consegue detectar este tipo de hipertrofias quando se procura particularmente esse fenómeno”

O rigor e acompanhamento personalizado dos atletas de alta competição foram insuficientes para evitar a morte de Fehér. O público ficou chocado com a situação e a discussão que se seguiu apontou a irresponsabilidade de quem se deveria responsabilizar pela prática desportiva de atletas desta estirpe. Apesar da culpabilização do público, a visão médico-científica do Dr. Abreu Loureiro é diferente. A autópsia realizada ao jogador do Benfica indicou uma miocardiopatia hipertrófica apical que, na opinião do médico cardiologista, não pode ser detectada nos ecocardiogramas. “Só se consegue detectar este tipo de hipertrofias quando se procura particularmente esse fenómeno”. A raridade da hipertrofia no ápex do coração dificulta a sua detecção, sendo que só pode ser encontrada através da realização de uma ressonância magnética que, até à data, não era obrigatória. A alteração de Fehér era tão localizada no coração que, na maior parte dos casos, é apenas detectada na autópsia. É algo a que qualquer um está sujeito, já que, como o médico cardiologista refere, não sucedeu durante o esforço. “O jogador estava parado, a rir e de repente caiu. Um coração “normal” pode em qualquer circunstância, durante um esforço, fazer surgir um problema cardíaco causado por um defeito estrutural que nunca tenha sido identificado”. Se deficiências como estas atingem uma grande dificuldade de detecção em atletas de alta competição, tudo piora quando se fala de futebol amador e futebol jovem, onde a bateria de exames a que os praticantes estão sujeitos é menor.

Pedro Santos tinha 17 anos quando sentiu algo no coração pela primeira vez. “Estava na praia com os meus pais e um amigo meu e, subitamente, senti a pulsação disparar para valores exagerados que excediam as duzentas pulsações por minuto. Fiquei mais preocupado ainda, porque não estava em esforço. Os meus pais não lhe deram muita importância porque algum tempo depois tudo voltou ao normal”.
Pedro Santos praticava futebol federado desde os 8 anos e sempre se habituou a controlar a pulsação cardíaca. No entanto, apesar deste incidente no Verão de 2002, os exames médicos a que se submetia todos os anos nunca acusaram nada, nem mesmo no mês seguinte ao incidente. Pedro continuou a praticar desporto durante esse ano e, em Abril de 2003, voltou a ter grandes alterações de pulsação cardíaca, sendo que a última aconteceu em pleno jogo. “Com apenas 20 minutos de jogo voltei a sentir o coração a disparar. Não conseguia aguentar mais e pedi para sair”.
Depois do incidente em plena competição, Pedro foi aconselhado pelo seu treinador a realizar exames específicos. Durante o mês de Maio fez vários exames e consultou vários médicos, entre eles o Dr. Abreu Loureiro. “Fiz vários electrocardiogramas que não acusaram nada. O ecocardiograma acusou um prolapso sistólico da válvula mitral, que é mais conhecido como um sopro do coração, mas era irrelevante e não poderia estar na causa do que me acontecia. Apesar disso, tendo em conta o que contei ao cardiologista, ele reencaminhou-me para o Hospital de Santa Cruz e falou-me de uma pequena intervenção para detectar e corrigir o que tinha”.
A mãe de Pedro não ficou agradada com a ideia do filho ser submetido à intervenção e procurou uma segunda opinião. No segundo cardiologista, fez o Holter (electrocardiograma com a duração de 24 horas) e uma prova de esforço, contudo os resultados foram inconclusivos e foi dado como apto para a prática desportiva. “Fiquei muito feliz com o resultado, mas infelizmente, um mês depois tive novo ataque. Admito que fiquei desesperado, mas não perdi mais tempo. Fui directamente ao Hospital de Santa Cruz”. Em Santa Cruz, o especialista em Arritmologia, o Dr. Pedro Adragão, aconselhou Pedro Santos a realizar um estudo electrofisiológico que permitiria detectar e corrigir o problema que lhe provocava a taquicardia ventricular.
“Fiquei preocupado, mas o conhecimento que tinha sobre o assunto ajudou-me um pouco. Sabia que alguns dos jogadores com quem me tinha cruzado tinham tido o mesmo problema. O Cristiano Ronaldo tinha tido o mesmo problema e voltou a jogar futebol e agora está na selecção nacional. Sabia também que o Bruno Baião tinha tido problemas e também já tinha regressado ao futebol. Infelizmente, acabaria por morrer menos de um ano depois do que me aconteceu”.

* reportagem de investigação levada a cabo no âmbito da cadeira de Géneros Jornalísticos.
Parte I - (link)

Artigo de Rui Silva
Publicado às 21:17


futebol nacional

blogobola

blogs

portais

clubes

modalidades



© Livre Indirecto 2006 | Desenhado por Pedro Lopes